Esqueça tudo o que seu amigo hipster fala sobre organização urbana. É sabido há muitos séculos que cidades densas são mais eficientes e geram mais qualidade de vida para a população. Sim, cidades mais altas, concentradas, compactas são melhores para o meio ambiente.
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O fato é que as cidades nasceram como locais em que a população se concentrava para fazer negócios, comprar e vender bens e assim por diante. Por isso que maior parte das cidades se organizava em torno de uma praça central onde tradicionalmente se fazia a feira.
Ali ao redor normalmente tinha um ou mais templos que, dependendo do deus, podia envolver algum tipo de comércio, serviço ou oferenda.
E assim, ao longo dos anos as cidades foram crescendo com as pessoas morando em volta das praças. Antes da invenção do saneamento urbano as cidades eram fedidas e seus moradores morriam cedo. E como sabemos, quase todas as cidades brasileiras de hoje em dia possuem esgoto, eletricidade e água encanada. Então esse problema foi resolvido e as cidades poderiam ser usadas para o que realmente importa.
E esse é o ponto principal deste artigo.
A função de uma cidade é facilitar a troca de bens e serviços entre as pessoas. É por isso que todo mundo ficava junto e empilhado em Jericó há 10 mil anos, apesar do risco de morrer em uma epidemia. E é pelo mesmo motivo que tanta gente mora em Rio ou São Paulo hoje.
Mas aí vem algumas inovações como o transporte coletivo por meio de bondes ou ônibus e especialmente o automóvel. Com a popularização dessas invenções foi possível que pessoas com casas a quilômetros do centro participassem da vida econômica. Isso foi revolucionário. Permitiu a criação de bairros distantes do centro.
Essa “inovação” veio por um preço. Claro, sempre tem um preço.
As cidades foram ficando cada vez maiores. Afinal, quem não quer morar em um lugar arborizado onde cantam os pintassilgos? Sem falar que os terrenos eram mais baratos e as pessoas poderiam morar em casas maiores, mais amplas.
Inegavelmente, é muito melhor do que morar no centro das cidades com aquele cheio constante de sarjeta e óleo diesel. E óleo de dendê, se você estiver em Salvador.
Essa suburbanização foi um desastre para o meio ambiente, sem falar na imensa perda de tempo e recursos empregados no trânsito. A expansão das cidades destruiu habitats e mananciais mundo afora. Gerou perdas de tempo gigantescas em engarrafamentos e destruição de recursos escassos, como combustíveis.
É óbvio ululante que não estou falando apenas do Brasil. Este fenômeno aconteceu no mundo todo.
E eis que mês passado o prefeito de Porto Alegre anunciou uma mudança grande no Plano Diretor. Agora, se poderá construir prédios de até 200 metros de altura na área mais central da cidade.
Pela proposta, serão liberados 1,180 milhão de metros quadrados em potencial construtivo, ou seja, o quanto se pode construir em cada terreno. Aquelas empresas que investirem no Centro Histórico poderão ter direito a comprar potencial construtivo em regiões mais valorizadas, onde não há mais estoque desse potencial.
Além disso, o projeto prevê isenção do pagamento para construir além do limite preestabelecido para cada terreno, nos primeiros três anos, na área junto às avenidas Mauá, Júlio de Castilhos e Voluntários da Pátria. Também haverá permissão para construção de passarelas e esplanadas entre os prédios e o Cais Mauá, por cima da linha da Trensurb. Veja a notícia.
Além disso, há outras mudanças que permitirão dobrar a quantidade de residentes no centro histórico. Que é a área da cidade com o melhor acesso a transporte coletivo. Com melhor saneamento. Melhores escolas e menor necessidade de usar carros para deslocamento.
E também com as melhores praças, museus e restaurantes.
Ora, muita gente critica as cidades muito verticais, dizendo que elas possuem pouca ventilação, pouca insolação, pouca privacidade e mesmo pouco espaço para carros transitarem.
Isso tudo é verdade, agora é preciso comparar com uma cidade horizontal. Um cidade apenas com casas ou prédios baixos naturalmente tem mais espaço para árvores, ventilação e solo mais permeável à água. Por outro lado ela precisa de muito mais terra para existir. E como as distâncias são maiores, a necessidade de transporte coletivo (como ônibus) ou particular (como carros, motos e bicicletas) é muito maior.
Normalmente, nos bairros mais horizontais não se vê engarrafamento. Pois os carros e ônibus estão indo em direção ao centro. O engarrafamento que vemos na zona central das cidades normalmente acontece porque os moradores dos bairros distantes precisam chegar no centro
Pense bem, Nunca são os moradores do centro que precisam sair em massa para trabalhar nos bairros!
Esse sistema de cidade horizontal gera uma perda de produtividade imensa. Pense em todo o tempo e dinheiro gasto com deslocamentos, e em fazer praças ou escolas em bairros distantes que ficarão desertas. O saneamento básico então, nem se fala. è um desafio estender a rede de esgoto para os bairros distantes.
Pergunto então, devemos sonhar com cidades mais densas, mais concentradas, em que as pessoas podem fazer mais coisas a pé sem precisar tanto deslocamento e destruição? Comente aí.