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Utopia é uma palavra que vem do grego e significa, literalmente, lugar nenhum. “u” seria a negação, “topia” é lugar. O termo foi criado pelo filósofo Thomas More no seu clássico livro “Utopia” de 1516 para descrever um lugar que ele julgava ser o ideal conforme seu conjunto particular de crenças.

Normalmente as pessoas que usam a palavra utopia querem se referenciar a algo paradisíaco, em que todos são felizes e vivem em harmonia. Algo que, por definição, não existe em lugar nenhum por um conjunto bem variado de razões.

Utopia em vídeo

Como é a utopia original?

No seu livro de 1516 Thomas More foi inspirado por relatos de navegadores e se dedica a descrever em detalhes esse lugar incrível. Eu fico fascinado como Thomas More dá importância a detalhes que hoje parecem pouco importantes, como a geografia e a simetria entre as cidades e famílias.

“A ilha era, originalmente, uma península, mas um canal com quinze milhas de largura foi escavado pelo fundador da comunidade, o rei Utopos, para separar a ilha do continente. A ilha possui 54 cidades. Cada cidade é dividida em quatro partes iguais. A capital é a cidade de Amaurot, que se localiza bem no centro da ilha.

Cada cidade possui 6 000 famílias, sendo que cada família é constituída por entre dez e dezesseis adultos. Cada grupo de trinta famílias elege um Syphograntus (que Morus diz que atualmente é chamado de filarco). Cada grupo de dez Syphogranti, por sua vez, elege um Traniborus (que é atualmente chamado de protofilarco) para comandá-lo. Os duzentos Syphogranti de uma cidade elegem um príncipe através de voto secreto. O príncipe reina pela vida toda a não ser que seja deposto por suspeita de tirania. “

Da Wikipedia

A utopia dele também tinha ampla liberdade religiosa, os políticos agiam pensando no bem-estar dos cidadãos e as pessoas não usavam qualquer tipo de dinheiro nem possuíam propriedade privada, pois entendiam que isso era incompatível com o estado de felicidade desejado.

Qual o problema com Utopia?

É natural que as pessoas se perguntem como seria um mundo ideal. Desejável até, afinal sonhar não custa nada. O problema mesmo veio nas oportunidades de executar a sociedade ideal, normalmente na esteira de uma revolução. Praticamente todas as tentativas de criar sociedades utópicas acabaram trazendo miséria, caos e destruição.

O caso mais emblemático talvez seja a extinta URSS, fundada por ideias comunistas, que almejava uma sociedade igualitária em que cada um receberia o que é seu por necessidade. No final, se tornou uma grande prisão para quase 300 milhões de pessoas subjugadas a uma burocracia tecnocrática e cruel.

Mas por que a URSS e todas as sociedades utópícas fracassaram? Muitas pessoas dizem que o erro foi ter executado o plano da forma errada. Teria sido incompetência, portanto, nunca problemas no plano utópico. Eles acham que os sonhos de Marx e Lenin estavam certos e foram deturpados.

O problema na realidade é um erro básico de estratégia. Como falamos no artigo de estratégia, a abordagem mais eficiente para executar algo difícil é criar planos e mais planos, sabendo alternar entre eles e sempre mantendo o objetivo. Leia o artigo sobre estratégia.

Porém o que acontece quando se executa o plano, por exemplo uma sociedade planificada, e as pessoas ainda são infelizes e desejam escapar? Claramente havia um problema no objetivo e ninguém conseguia alterar ele, pois os críticos do modelo eram considerados perigosos contra-revolucionários e enviados para Gulags ou assassinados.

A solução evidente talvez seja o que estamos vendo hoje em dia na China e Vietnã. Muito embora sejam sociedades comunistas, já não tem a economia planificada e permitem uma dose bastante grande de liberdade a seus cidadãos, quando comparado com regimes mais tradicionais como Cuba e Arábia Saudita. Chineses podem abrir empresas, acumular capital, viajar para outros países, comprar estatais de outros países e muitas outras coisas que os soviéticos não podiam.

Isso não é um elogio a China, que ainda permanece solidamente uma ditadura por restringir os direitos políticos e civis dos seus cidadãos. Apenas ressalte-se que o país não está mais buscando uma utopia planejada por um gênio visionário, mas sim seu próprio caminho desenhado aos poucos em cada encontro do PCC.

Utopia a nível pessoal, uma analogia

Gurus de auto-ajuda vão dizer que a fórmula da felicidade inclui 3 refeições balanceadas, 30 minutos de exercício e dormir 8 horas por dia. Quem fizer isso direitinho por alguns anos poderá tomar 1 cálice de vinho por dia. Uau. Que. Vidão.

Esse tipo de utopia, ou projeção, acaba ditando o que entendemos por felicidade. Quem não dorme 8 horas por dia ou não gosta de tomar café da manhã, logicamente não é normal. E ficará sem o cálice de vinho!

Porém as pessoas são todas diferentes. Algumas pessoas tem sono polifásico, que era muito comum até todas as casas serem eletrificadas. Brigar contra sua natureza pessoal é, a nível individual, o mesmo que impedir as pessoas a terem propriedades ou casarem com quem quiserem.

Utopia, uma estratégia para uma vida feliz

Com base no registro histórico dos países, os mais felizes e desenvolvidos são aqueles que permitem a seus cidadãos serem que eles querem ser. Quer ser bilionário ou bailarino? Trabalhe duro, seja criativo, arrisque sua sorte e talvez atingir seu sonho. Quer ser mendigo, maconheiro ou viver de auxílio do governo? Pode ser também, desde que não incomode ninguém.

Será que é válido usar essa experiência social como base para a vida pessoal? Seriam mais felizes as pessoas que aprendem a viver e se permitem mudar sua fórmula de vida conforme o contexto ou desejos? Seriam as pessoas birutas mais felizes? Biruta nesse caso, é uma pessoa que pode seguir para qualquer lado conforme o vento. São pessoas que se permitem mudar de posição ou opinião, mantendo apenas seus princípios fundadores.

Uma sociedade, por exemplo, pode em algum momento achar que homossexualismo é crime e alguns anos depois mudar tanto a ponto de permitir o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Isso aconteceu no Reino Unido, onde até 1967 era crime gostar de pessoas do mesmo sexo e em 2013 permitiu que tivessem os mesmos direitos que todos.

Sociedades utópicas X conservadoras

Do ponto de vista conservador, faz mais sentido ir aos poucos adaptando a sociedade para quem vive nela, ao invés do oposto. Esse costuma ser o problema das utopias. Elas partem de premissas que NÃO são ótimas para todo mundo, o tempo todo. Simplesmente é impossível agradar a todos. E, como mostram os princípios conservadores, na prática isso é desnecessário desde que você permita que as coisas mudem aos poucos e de forma segura, sem rupturas.

Como se viu nos “paraísos utópicos” socialistas do século XX, as pessoas mais talentosas achavam injusto não poderem usufruir de uma qualidade de vida comparável às suas habilidades. A quantidade de pessoas ultra-talentosas que fugiram das utopias é grande e desproporcional em relação ao caminho inverso.

Veja a lista completa na Wikipedia.

Utopia, como usar para viver melhor

Partindo da premissa de que sonhar é bom e sim devemos idealizar um mundo melhor, como podemos alcançar ideias utópicos sem incorrer nos erros do passado? Se esse artigo valeu de algo, fica a dica de que cada um pode e deve buscar seu próprio caminho para a felicidade sem com isso forçar seu ideal aos outros.

Nenhum liberal ou conservador se importa de verdade que as pessoas vivam do seu jeito, por exemplo casando com quem quiser ou consumindo as drogas que desejar. Desde que isso, vale deixar claro, não impacte negativamente na vida dos outros.

Ao se consumir drogas ilegais, por exemplo, acaba-se por financiar criminosos, contrabandistas e policiais corruptos. Isso é claramente inaceitável, porém do ponto de vista conservador o problema de fato está na ilegalidade e não no consumo. Não me importa o que os outros fazem, desde que não me incomodem.

Do ponto de vista socialista, existem vários e vários experimentos sociais em que pessoas vivem em comunidades igualitárias. Devido a seu tamanho reduzido a algumas centenas de pessoas e a ampla liberdade para participar ou não das comunidades, são bastante bem-sucedidos no que se propõem. Os Kibutz israelenses são comumente citados como exemplos, mas no Brasil temos casos extensos de cooperativas agrícolas extremamente bem-sucedidas que garantem uma qualidade de vida muito boa.

Para o futuro da sociedade me parece interessante permitir modelos sociais variados e criativos, que façam sentido para aquelas pessoas, aquela região e aquele contexto histórico. Empurrar apenas uma forma de viver inevitavelmente trará descontentamento e infelicidade.

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